Saudosismo, revoltas, Costa
Rica, Irã, Gana, Flamengo, Resende, seu time, Seleção Brasileira, imprensa,
bobos, espertos, interrogações... Tudo misturado desde uns tempos para cá
dentro da mente triste e saudosa desse que vos escreve, a dizer de futebol, a tentar
entender o futebol.
“Não há mais bobos no futebol”, disse alguém não
sei quando, mas, desconfio que o poeta estivesse tentando se esquivar de uma
pergunta do tipo: "Treinador, como foi que o seu time conseguiu perder
para este adversário tão fraco e tão menos abastado técnica e
financeiramente?” Não existem mais bobos... Engraçado, tenho jogado peladas
tempos e várzeas afora e, posso garantir aos amigos, os bobos continuam lá.
Sim, são os mesmos, são outros, mas estão lá, não faltam!
Sou torcedor de futebol desde um tempo quando
havia bobos aos borbotões, aos montes. Todavia, se a memória remota e a recente
não estiverem me ludibriando, a existência desses bobos estava diretamente condicionada
à existência dos, digamos, mais espertos ou, menos bobos. Mas os bobos... Eles
não faltavam! E não faltam. Claro, comecei a torcer em meados dos anos 70, ali
mais precisamente num FlaxFlu de 1974, vencido pelo Tricolor. Poucos bobos havia
naquele Tricolor e também naquele Rubro-negro, mas havia. Espertos, sim, havia mais
espertos que bobos naquela tarde de domingo. Doval, Cleber, Manfrini, Zico,
Geraldo e Marco Antônio... Sim, esses eram alguns dos espertos. Era prudente
que um bobo não ficasse de bobeira na frente de um desses, pois, à época, o
Maracanã vivia cheio, e cheio naqueles tempos significava algo em torno de 90
ou 100 mil pessoas. Não era moleza não! E assim fui aprendendo a gostar de
futebol, a me apaixonar
por este esporte ainda tão apaixonante. Gosto dessas lembranças e as datas permanecem
acesas na mente, na saudade e no coração.
Os anos 70 chegaram ao fim. Até o
início dos anos 80 minha relação com o futebol, enquanto paixão, permanecia ali,
sendo correspondida de maneira efervescente, ardente. Estava no Maracanã
constantemente e os maravilhosos jogos de futebol se sucediam semana após semana.
Vitórias? Nem sempre. Entretanto, a modéstia tem de ser posta de lado. As
vitórias do meu time naquele tempo eram maioria. Mas, nas vitórias ou nas derrotas
não se podia reclamar dos espetáculos, daquilo que os espertos faziam aos bobos
ali, diante de milhares de pessoas, torcedores. Flamengo, Vasco, Fluminense e
Botafogo, para ficar no Estado do Rio, eram esquadrões esplendorosos! A Seleção
Brasileira de 82 o ápice dessa época. Uma Seleção Brasileira que, diz um bando
de meninos frequentadores de páginas esportivas por aí, não ganhou nada.
Infelizmente a realidade nua e crua vem atestar essa visão daquela Seleção. Mas
e esta coisa que pulsa em mim e em corações como o meu, corações brasileiros e
estrangeiros, não seria a melhor conquista de qualquer Seleção Brasileira? Um
magnífico legado que foi ignorado no ano seguinte ao desfecho infeliz da Copa
do Mundo de 1982. A Itália – um belo time de grandes marcadores - venceu a Copa
e jogou o legado da Seleção Brasileira no ralo. E ali, a partir daquele ano,
minha revolta atual começou a ganhar vida, motivo.
Zico, Rivelino, Mendonça, Renato, Pita... vou parar por aqui. O número “10”,
até então o mais importante jogador de cada time, o cérebro, começou a perder
seu espaço nos diversos times e, na própria Seleção Brasileira, para o “5”, o “8”.
Só que essas camisas, que já haviam sido vestidas e honradas por gente como Falcão,
Carpegiani, Sócrates, Adílio, começaram a ser vestidas por Elzos, Pintados, Dorivas
e coisas do gênero. São esses os precursores dos Dungas e Mauro Silvas, os
fomentadores de bobos, os caçadores de espertos, que se apresentaram e foram
escolhidos para conquistar o que os espertos perderam. Tenho certeza que foi
naquela altura da humanidade que o demente disse ao jornalista: “Meu amigo, não
existem mais bobos no futebol.” Pois eu e minha revolta discordamos veementemente!
Claro que há bobos no futebol! Há em demasia, o que não há, ou há poucos, são
espertos. Os times de outrora, a maioria, os tops, tinham em seus elencos um “muito
esperto” (Zicos, Rivelinos, Falcões, etc...), alguns espertos e uns bobos, poucos.
Hoje não é mais assim. Garantem que os bobos ficaram espertos, mas o que
aconteceu foi algo muito próximo do contrário. Os espertos não ficaram bobos,
apenas sumiram, deixaram de ser descobertos e o futebol passou a ser lugar de
bobos. No campo e, desculpem-me, nas arquibancadas.
Venezuelas, Equadores, Macedônias,
Novas Zelândias continuam por aí. Digo ainda mais, essas seleções pioraram!
Aguinaga... O Equador dos anos 80 tinha um Aguinaga, meio-campo equatoriano
que, sozinho, pois estava acompanhado de um monte de bobos, parou uma Seleção
Brasileira em São Paulo. Uma Seleção Brasileira que começava a encher-se de
bobos em detrimento dos espertos que ainda caminhavam por aqui. Não obstante a
proliferação de Dungas, Pit Bulls, Cães de Guarda que passaram a assolar o
país, transformando Itálias e Bragantinos em vencedores, a figura dos jogadores
que pensavam o futebol começava a evaporar. O “9”, outrora um mero fazedor de
gols, na esmagadora maioria das vezes a partir de situações criadas pelos
números “10”, surgiu como o redentor das vitórias porventura obtidas após a
certeza da neutralização do pensamento adversário. As Venezuelas, os Equadores
e as Macedônias de ontem estão representadas nas figuras simpáticas das Costas
Ricas, Ganas e do próprio Irã de hoje. São todos bobos!
São realidades vividas em cada
seleção, em cada país que apenas refletem o que acontece no dia a dia de cada
campeonato nacional ou regional. O Flamengo de outrora, em vias de regra,
passava seu rolo compressor em qualquer time pequeno que se aventurasse em seu
caminho. Na década de 80 Flamengo e Botafogo ficaram 53 jogos sem perder,
invictos. Verdade, a maioria desses jogos disputados contra times pequenos, de
menor investimento, repletos de bobos que, como bobos eram subjugados pelos
espertos. Se você é torcedor de um time grande provavelmente esta era a
realidade de seu time. Mas, e a realidade de seu time atualmente, qual é? Você
acha mesmo que seu time está cheio de espertos enquanto o Resende não tem mais
bobos? Tem certeza disso?! Não posso concordar. O que sei é que o Resende está
com muitos bobos em seu elenco. Mais bobos do que os Bangus e os Madureiras do
passado. O problema e, duvido que você deixará de concordar comigo, é que:
Felipe, Leo Moura, Wallace, Samir e André Santos; Amaral, Muralha, Luíz Antônio
e Mugni; Paulinho e Hernane, compõem um time repleto de bobo. O único jogador desse
time que é mais ou menos esperto tem quase 40 anos!
Marcelo, lateral bobo da Seleção
Brasileira que representa a Família Scolari, disse ironicamente a um jornalista
que o Brasil não deixou de fabricar craques, jogadores que estou chamando até
aqui de “espertos”. Deve ter imaginado a si próprio, Oscar, Hulk, Fred, Luiz
Gustavo, Paulinho e Daniel Alves como jogadores espertos, craques. Não amigo
Marcelo, esses não são espertos e nem craques. Bobos? Obviamente que não são!
Mas estão longe demais de serem classificados como um craque. Entenda Marcelo
que, a despeito do que diz a imprensa, não sei se por esperança, desespero, ou
mesmo necessidade de se vender, nem o fabuloso Neymar pode ser taxado como um
craque. Um ótimo jogador e excelente promessa, mas, por exemplo, não
substituiria Éder na Seleção Brasileira de 82, aquela que não ganhou nada.
Nossa Seleção não tem bobos, não é isso, mas não somos mais capazes de vencer
facilmente as demais seleções que continuam a procriar seus bobos entre si.
A voz do povo não é a voz de Deus. A
voz do povo é a voz da imprensa. Não que a imprensa seja a única culpada pelo
que aconteceu e acontece com o futebol mundial, mas difundir o que deveria ser
criticado é sim, papel único e exclusivo da imprensa. O futebol em todos os
cantos do mundo precisa de um choque. Uma Holanda que enfrentou a Espanha, ou
uma França que enfrentou a Suíça precisa vencer esta Copa do Mundo. Ou a
próxima! Se o pragmatismo do Brasil que enfrentou o México, a arrogância
embolada da Argentina que enfrentou o Irã, ou a rigidez sem foco da Alemanha
que enfrentou Gana obtiverem êxito nesta Copa, estaremos fadados a ouvirmos
pelos meios que difundem nossa paixão, o futebol, por mais 4 anos, pelo menos,
que os bobos não existem mais, que são e somos todos espertos e, que o Grupo da
Morte é uma imagem que deve ser temida pela Itália, pelo Uruguai e pela
Inglaterra, não pela poderosa Costa Rica. Não existem mais bobos no futebol, ou
nos faltam nossos saudosos espertos da bola?