quarta-feira, 23 de abril de 2014

O Fim dos Tempos

Crescemos, amadurecemos e nesse amadurecimento, ao menos alguns atribuem a ele, passamos a contar com a estranha sensação de que o tempo começa a passar mais rápido. Esse “passar mais rápido” está estranhamente acelerado. Ou será que o amadurecimento do próprio amadurecimento, com a passagem de mais anos, nos dá essa outra sensação, a de que o tempo passará e continuará passando a cada dia mais rápido. Esse devaneio todo serve, talvez, para amenizar a real sensação que está me assolando não faz muito tempo. Claro, até faz muito tempo, mas é que este muito tempo passou tão rápido...
Refiro-me a tudo o que está acontecendo e não passa por mim de maneira despercebida. Talvez passe por você, mas certamente não estará passando pelo seu pai ou pelo seu avô. É a sensação do fim dos tempos. Fim dos tempos que passam rápido e dos que nem tão rápido passam por nós.
Você vê o Jornal Nacional de hoje e as barbaridades aparentemente se repetem. Mas são outras – exceção feita à compra da Refinaria de Pasadena/EUA -, são outras e são as mesmas. Isso faz com que você não perceba que se esqueceu do Jornal Nacional do dia anterior. A percepção as barbáries do cotidiano se foram e tenho minhas dúvidas se o tempo tem algo a ver com isso, passando rápido demais para que eu me perceba inserido nele, envolvido por ele, ou se os tempos estão mesmo em seu final e Aquele que é o seu senhor está apenas sem paciência pois a apoteose se aproxima e o relógio promete extrapolar o tempo permitido.
O número de bandidos que morrem diariamente não nos pertence mais enquanto informação. Não ligamos mais para isso. Ligamos sim, para o número crescente de amarildos e bailarinos executados em nossas ruas.  Nossas policias, que no evento do Complexo do Alemão aparentaram mudar sua imagem de outrora, e a atual, para a de verdadeiros Vingadores, parecem querer nos comprovar o improvável. O Bope que não deixava ninguém subir, hoje saiu das ruas para vigiar portas de empresas e o subir e descer que pertence ao alheio. O Exército... O Exército está nas ruas. Ora, mas lutamos tanto para aquartelá-los que nem nos lembramos mais disso, ao implorarmos pela imagem daqueles soldadinhos de fardas camufladas a nos defender do nosso cotidiano que passa diariamente na TV, em capítulos inéditos que se repetem diariamente sem que percebamos. Essa gota do mundo está girando assim, com a rapidez boltiana dos tempos, de tempos que parecem correr para não existirem mais. E para que divagar sobre essa gota, sobre esse tempo, sobre nossas percepções? Ora, para falar um pouquinho de futebol e de uma gota relacionada a este maravilhoso e apaixonante universo sobre o qual nossa percepção anda no fim, ou muito rápida para que possamos discernir do modo que um dia discernimos. Na verdade não é sobre o futebol em si, mas sobre aqueles que abordam o futebol e nos alimentam, tentam, de informações transformando as mesmas em pedações de paixões emocionantes, como apaixonante é a emoção do universo do futebol. Minha percepção de debruça sobre pedaços da imprensa esportiva com a qual convivemos na busca dessas informações.
Sou de uma geração que precisava esperar o fim do seu programa dominical favorito – e não tínhamos para onde correr – para aí sim, nos deliciarmos com o vídeo tape do principal jogo da rodada. Bem, era assim aqui no Rio de Janeiro. Noutros estados simplesmente não sei como era. Mas aqui era assim. Januário de Oliveira, a voz mais marcante desse evento noturno, não falhava. Era tão certo quanto a missa das seis, ou quanto o culto das oito. Não falhava. Era assim o fim de todos os domingos esportivos. Domingos de estádios cheios. Um clássico com menos de oitenta mil pessoas nas arquibancadas e gerais do Maracanã era comentado como um frondoso fracasso. Atenção!! Valesse este clássico um turno, um campeonato ou apenas mais um número nas estatísticas, um clássico com menos de oitenta mil pessoas era o assunto do domingo. Claro, a não ser que na rodada houvesse um título conquistado ou um gol feito em impedimento que ceifasse de algum time grande a possibilidade de um título.  O outro evento além do clássico e do vídeo tape era a Mesa Redonda. Rui Porto, Luiz Mendes, Sérgio Cabral, Achiles Chirol, Orlando Batista... esses e mais alguns do mesmo naipe, sempre povoavam os finais de domingo com comentários e informações sobre os times do Rio de Janeiro e, claro, alguma coisa de outros , estados também, nem sempre apenas os gols, mas informações relevantes sobre o futebol fora do Rio. Não, em nenhum momento o futebol dos outros estados era vendido em chamadas dos programas. Era um plus, o algo a mais que nem era prometido e se não aparecesse ninguém sentiria falta. Mas a TV mudou.
Video Tape de clássicos? Não, agora vemos os clássicos ao vivo, com imagens para as praças nas quais esses jogos ocorrem. Um Fla-Flu às quatro horas da tarde, com ingressos a cem reais e TV ao vivo... no que poderia dar? O público vazou! E com razão. Aliás, por falar em razão, creio que a TV ao vivo e os preços dos ingressos não sejam a principal razão da evasão de torcedores dos estádios. Nem a violência. Penso que o principal motivo desse sumiço seja o fato de que nos times que jogam ao vivo,  na TV aberta, enquanto o valor dos ingressos beira aos cem reais não contem mais em seus planteis com jogadores da estirpe dos de outrora. Hoje não há mais os cabeças-de-área que haviam antigamente, hoje há amarais e ralf’s, sendo que os segundos são considerados craques. Os cabeças-de-área antigamente àquela época atendiam pelos nomes de Falcão, Andrade, Zanata, Zé Mário, Pintinho e coisas do gênero. Sim, os ingressos estão pela hora da morte, a violência caiu no cotidiano, a TV passa tudo isso ao vivo, mas talvez um número maior de pessoas enfrentassem tudo isso por um espetáculo melhor, mesmo sabendo que correria o risco de cair na mesmice de um Jornal Nacional qualquer.  Mas essa divagação não trata dos clássicos para dez mil pessoas numa tarde ensolarada de um domingo qualquer.
Hoje, além dos clássicos para dez mil pessoas, a cem reais, com a violência de pé nas arquibancadas, transmitidos ao vivo pela TV aberta, há também a proliferação das mesas redondas, tão ricas no passado e, me desculpem meus amigos da imprensa, tão pobres atualmente. Não citarei todas, obviamente, mas tratarei de alguns aspectos horrendos de algumas, as mais populares – ou não -, que diariamente invadem nossas residências.
Não há a proliferação na TV aberta. O maior ícone do que de pior existe em mesas redondas sim, bate ponto na Rede Bandeirantes e é capitaneada pelo horrível Milton Neves. Na função de âncora de programa de debates ele se transforma no maior vendedor que conheço. Deveria estar no Shop Time e não num programa que se propõe a debater futebol. Sem contar que nos debates que por hora surgem em meio as vendas, o nível de discursão é tão superficial e desprovido de seriedade que o melhor a fazer é apertar duas teclas qualquer do controle remoto. Mas é na TV paga que o mais grave ocorre em minha humilde opinião. Por quê? Ora...
Milton Neves é Milton Neves, tem a sua marca, vende as suas marcas e não procura enganar ninguém – ao menos enquanto se vende Milton Neves. O que quero dizer com isso? Quem zapeia e para no Milton Neves sabe exatamente ao que vai assistir e assiste porque quer. Mas quando você zapeia e para na ESPN Brasil...
Em primeiro lugar essa ESPN de Brasil não tem nada, apenas o nome. Lembro-me de seu início e, lembro bem, pois ele nasceu no mesmo dia 17 de junho no qual nasceu uma de minhas filhas. Já trazia o Brasil no nome e, àquela época, ameaçava trazer o Brasil em suas intenções também.  A ameaça era tão linda e lúdica que me fez imaginar uma bela opção ao que nos fornecia a Rede Globo e suas afiliadas, pagas ou não. Acabei me apegando à emissora e às suas intenções.  Havia também a possibilidade de interagirmos com a emissora durante seus programas e transmissões. Isso nos fazia parte de tudo!
Durante a Copa do Mundo da França, em 1998, a emissora criou uma mesa redonda para debater os jogos e, particularmente, a participação da Seleção Brasileira no certame. Chamava-se Linha de Passe Mesa Redonda.  José Trajano, Juca Kfouri, Paulo César Vasconcelos, Paulo Vinícius Coelho, Tostão e, se não me falha a memória, Fernando Calazans (não lembro se Calazans entrou depois).  Lembro sim, que a mesa redonda era espetacular e tratava apenas da Copa do Mundo. Sem aspectos clubistas, ou mesmo bairristas, o programa encantou a todos os telespectadores. Encantou a tal ponto que, ao final da Copa e, a partir da possibilidade da interação com os participantes do programa, pedimos, eu e mais um monte de gente, pela permanência do programa em seu formato no pós-Copa. Fomos atendidos. O programa rolava redondamente – achei durante um tempo. Paulista demais, sentia no programa a falta de uma voz mais carioca, abordagens mais cariocas. Pedi(mos) e uma bancada carioca formada por Fernando Calazans e Márcio Guedes passou a fazer parte do programa. Mas de nada adiantou. Ainda que com dois cariocas no meio da paulistada, ainda assim, o assunto São Paulo e coisas do estado preponderava sempre que podia. Há um motivador especial para este comportamento do programa e de toda a bancada ao meu ver. Chama-se Juca Kfouri.
Nunca vi dissimulação mais bairrista na TV brasileira, aberta ou fechada. Temos nossos bairristas por aqui, mas eles não se negam bairristas e dizem que abordarão o Rio de Janeiro e seus times. Quem quiser ver e ouvir outra coisa... Juca Kfouri não. Ele se faz dissimulado. São vários os exemplos e basta cronometrar o programa para vermos que os assuntos paulistas sobressaem em detrimento dos demais. Noutro dia estava a falar do Flamengo e das dificuldades desse na Libertadores. No segundo seguinte Juca Kfouri pediu a palavra e citou um momento semelhante passado pelo Corintrhians. Não sei se por ingenuidade dos demais componentes da mesa ou por cumplicidade dos mesmos, o assunto mudou para Corinthians e o Flamengo, clube de maior torcida do país, certamente o time da maioria dos assinantes da emissora, foi para o espaço sideral. E assim acontece programa após programa. Hoje nem mais a bancada carioca faz parte do programa.
O Sportv... As mesas redondas do Sportv são muitas. Temos o Arena, o Redação e os programas pós rodadas  como o Tá na Área. Entretanto, a principal mesa redonda do canal é o Bem Amigos. Este programa é de uma apegação ao convidado que chega dar nojo. Nenhuma opinião irá confrontar ou deixar em maus lençóis aquele que se apresenta no programa. Se o treinador do seu time, ou algum jogador do seu time for o convidado ou um dos convidados, deixe no canal e se delicie com a promoção gratuita do time para o qual você torce. Gosto dos aspectos de alguns programas do Sportv. O Arena é só blá, blá, blá. O Redação traz a sempre bem-vinda mea culpa dos aspectos esportivos citados por André Rizek, seu condutor. Claro, há muito mais aspectos positivos da imprensa mostrados no programa. Mas dá para aceitar. No Bem Amigos...  Quando não vai um pagodeiro o programa fica bom na hora do número musical. Estamos entregues!
Estava mais uma vez assistindo no Youtube a um Programa Roda Viva – excelente programa de entrevistas, em sua maioria, sem papas na língua. O entrevistado? João Saldanha. Não existe na imprensa esportiva atual nada parecido com este moço. E olha que Saldanha foi comentarista esportivo em plena ditadura militar. Ou seja, tinha tudo pra ficar no blá, blá sem rumo com o qual hoje somos presenteados em nossas TVs a cabo. Autenticidade, ausência de medos e nem remorsos, João Saldanha dá uma aula, sozinho, daquilo que deveria ser oferecido ao público que paga por uma melhor qualidade nos comentários, mesmo o assunto sendo o futebol. Entendedor do seu meio, dentro e fora das quatro linhas, Saldanha destrinchou opiniões sobre Seleção Brasileira da época, escalou a sua, deixou algumas unanimidades de fora e, colocando o PVC no bolso escalou a Seleção da Itália de 1930, além de demonstrar como jogavam as seleções do Uruguay, da Argentina e da própria Itália em 1926. Não sei se João Saldanha acompanhava futebol em 1926, ou seja, apresentou-se um estudioso do futebol, mesmo sendo ele O João Saldanha. Programaço!

Isso é o que vejo, sinto e percebo enquanto meu tempo passa voando diante da programação esportiva à qual tenho acesso. Sou sensível a pessoas que dissimulam e conduzem os programas para onde desejam. Para o seu time, para o seu bairro. Também me sensibilizo com o blá, blá, blá que me vendem como se fossem João Saldanhas e Nelson Rodrigues – já imaginaram uma mesa redonda com esses dois, pois existiu, chamava-se Facit. Devia ser sensacional! Mas sou sensível a isso tudo e me irrito ao me sentir enganado, ludibriado. A imprensa esportiva precisa melhorar e muito. Percebam que me referi apenas aquilo que te empurram na TV. Há também o que se lastimar nos diversos Blogs espalhados por essa Internet de Meu Deus. São pseudojornalistas amarrados a clubes, a diretorias de clubes, e que tentam transformar nossas opiniões  a partir de suas opiniões comprometidas com o que nos vendem como o certo. O certo amigo, amiga, é você se tocar e não deixar o tempo passar tão rápido assim. Não esquecer que o Jornal Nacional de hoje não apaga o de ontem e, que duas tragédias são piores que uma, principalmente se anunciadas. Perceba, sinta e tire suas conclusões, não as minhas.

2 comentários:

Orlani Júnior disse...

Fala, Visão!

Voltou em 2014 com tudo, hein! Continue assim que gostamos. Bem não posso falar muito de tv porque não tenho assinatura - por enquanto, pois com a copa quero ver as reprises e tá cada vez mais difícil ver o fla ao vivo - e na aberta vejo justamente o roda viva, poucos jornais, principalmente o da cultura, e só - futebol não conta.
Vamos falar de flamengo? Será... Acabei de voltar do Pacaembu com muito medo, se a sensação contra o goiás era de que não ganharíamos de jeito algum, a de hoje é que vamos brigar intensamente para não cair. Falta muita coisa, meus Deus!

Visão Desconexa disse...

Salve amigo Orlani!!
Desculpe as demoras! Essa última motivada por uma viagem longe das coisas virtuais.
Flamengo... Vou escrever um pouco sobre o Flamengo. Já, Já.
Prazer revê-lo kkk
Grande abraço!
Ando por aqui cheio de dedos para não acertar o coração de 50% dos meus leitores. kkkk Mas acho que não durará muito tempo essa fidalguia. rrsrsrsr Abraços!