domingo, 3 de março de 2013

O Natal Rubro-Negro


O ano era o de 1974... Já escrevi aqui várias passagens ocorridas neste ano. Passagens que remetem à paixão, ao estado estupefato de todo coração quando se depara com sua paixão. Sempre neste momento tão especial, a maior paixão de sua vida. Comigo não foi diferente, como disse já escrevi sobre essa paixão. Entretanto, hoje, neste 03 de março, escreverei sobre a mesma paixão sob um outro prisma, sob uma outra visão. Não me referirei especialmente a paixão, mas sobre seu principal motivo.

Os olhos do menino de, mais ou menos, uns dez anos, não atendiam mais as ordens que vinham de seu cérebro, de sua consciência. Conforme seus passos ganhavam a rampa de acesso às arquibancadas seus olhares disparavam ao som e sob o ritmo de seu coração. Seu coração... já estava entregue às perspectivas. Um gramado verdinho, um tapete. Abaixo de seus olhares dois times disputavam a bola com gana e elegância inexplicáveis. Lá ao longe, do outro lado, já onde os olhos não atendiam mais aos chamados do coração, um monte de gente vestindo camisas com três cores, saltando, gritando mas, sem dúvida alguma, demonstrando nos sorrisos que emanavam um imenso respeito àqueles que estavam ao meu lado. De um lado, do outro, quase ocupando o estádio inteiro, aqueles que estavam ao meu lado também saltavam, gritavam e, sem que eu pudesse entender muito bem o motivo, comemoravam. Comemoravam o que, me perguntei. Comemoravam o que estava para acontecer, descobri mais tarde. Mais tarde, logo depois que descobri que aqueles dois times que estavam ali, disputando as jogadas com bravura e fidalguia, apenas faziam parte da cerimônia de preparação ao que se seguiria.

No lugar de pessoas humildes do povo, pessoas humildes do povo. Não poucas pessoas, mas milhares. No lugar de reis, jornalistas e no lugar do ouro, da mirra e do incenso, havia microfones, sorrisos e palavras. No lugar de um amagedouro, um templo, o maior templo do futebol à época. Reis e deuses haviam pisado àquele solo, mas agora pisaria àquele solo não apenas um rei ou um deus, mas um salvador, um messias.

O menino junto a multidão de rubro-negros sofria com a derrota de seu time, com o fracasso vinculado ao amor que sentiam por aqueles jovens que defendiam nossas cores, desta vez num campo já não mais dominado pela bravura e pela fidalguia, mas sim pela gana, pela raça, e a raça, apesar da iminente derrota, estava do nosso lado. 
No meio de tanta disposição e busca pelo reverso do fracasso, uma luz. Um brilho emanado pelo cabelo bem claro, pela disposição, mas principalmente pelo talento de um jovem que nascia diante de sua nação. Não nascia como um deus ou como um rei, mas como um salvador. Um messias que trazia consigo a paz nervosa de uma esperança àqueles que erstavam ali, diante daquele pelo nascimento. Seu nome... Zico.

O Flamengo perdeu aquela partida para o Fluminense por 2 x 1. Na saída do estádio, mesmo com a derrota, ainda assim, os torcedores da nação rubro-negra bradavam entoando seus cântigos de amor ao time, ao clube. Um por um os jogadores foram saindo e tinham seus nomes gritados pela multidão. O penúltimo foi Doval e a torcida gritou mais forte o seu nome que o nome dos demais. Logo após a saída de Doval o silêncio tomou conta da porta do vestiário e de seus próximos arredores. Em direção a saída do estádio caminhava o jovem proprietário de tantas esperanças. O silêncio ganhou a companhia de sussurros advindos de todos os lados. Apenas o menino abriu seus olhos mais do que podia e, numa atitude inversamente proporcional a esta deixou fechada  sua boca que permanecia aberta, impressionada.

A Nação Rubro-negra reconheceu ali o nascimento da esperança em dias melhores. Soube que a partir daquele momento a paixão se uniria ao amor já imenso pelos próximo anos. Nascia naquele instante, naquele tempo, Zico, o nosso Galinho de Quintino, aquele que nos trouxe o paraíso, a esperança e a concretização dessa esperança em sucesso divino.

Zico não nasceu em 1974, mas em 1953, mais precisamente no dia 03 deste ano de 53. Este é o dia especial no qual nasceu aquele que assombrou torcidas adversárias com seu talento, com sua dedicação e com sua devoção às nossas cores. Aquele que fazia a Maior Torcida do Mundo se levantar no maracanã assim que tocava na bola. A Torcida do Fla, quando o Galo pegava a bola mesmo no meio campo se levantava em reverência àquele que podia dali decidir uma partida e, Zico normalmente resolvia dali as questões do Mengão. 
O Flamengo de Zico angariou títulos e o mais importante, o coração daquele menino e de muitos outros meninos que somados mantém a hegemonia da Maior Torcida do Mundo  e da maior paixão já vista na direção de um clube de futebol. No ano de 1953 nasceu o nosso Zico, o nosso messias, profeta e salvador. O verbo e a carne unidos na mesma ação, no mesmo coração e no mesmo gênio. Hoje o Flamengo é o que o Flamengo de Zico fez pelo Flamengo de todos nós. 
Parabéns pelo seu nascimento Zico. Parabéns por tudo aquilo que você foi e é. Parabéns a você e a nós todos os rubro-negros desse mundão de meu Deus. São os votos deste que vos escreve e de mais seis rubro-negros advindos de minha paixão pelo Flamengo, pelo seu Flamengo. Você é 10!!!

Hokje, em sua homenagem estaremos todos vestindo o Manto que você transformou em Sagrado.



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