Abra lá o seu armário, nossa quanto carinho, quanto desleixo, quanta lembrança... Quanta roupa para doar!! Quanto amor... Como diria um amigo Rei que eu tenho, "quantas emoções, bicho". Pois é, lá estão aquela camisa que ela gosta, que ele gosta, aquela na qual você fica lindo, ou linda. Meu Deus!! E aquela desgraça, por que eu ainda não a joguei fora!!? Camisas, camisas... Desça um pouquinho seus olhos, e aquela ali, isso, aquela com aquele escudo no peito, linda não é? Aquela é a camisa do seu time. Carinho, lembrança, desleixo, emoções... Amor... nossa e os dias de desgraça... Melhor esquecê-los. Mas há algo nessa camisa que não há nas outras, o que seria? Não cara, você fica lindo/linda nessa também! O que essa camisa tem que as outras não têm é a paixão que ela representa, a paixão que você sente por quem ela representa, a paixão, a autoestima que sobem às alturas quando você à veste. É a camisa do seu time. E aí me vem uma dúvida. Uma dúvida surgida de observações que faço quando estou por aí e que faço a partir de meu próprio comportamento, que muitas vezes me faz vestir a camisa do meu time involuntariamente: quando você veste a sua camisa? Continue lendo, meu texto certamente não te explicará nada, aliás é bem provável que você descubra em si uma dúvida da qual nem se dá contas.
O Flamengo ganha e o Rio de Janeiro se colori de rubro-negro. O Flamengo perde, e o Rio de Janeiro se veste de rubro-negro. Como entender? Foi então que descobri que o que muda não é a quantidade de camisas rubro-negras nas ruas a partir das vitórias e/ou das derrotas do Flamengo. O que muda é a cor do rubro-negro. Uma vitória do Flamengo, um título, uma vitória num clássico e o rubro-negro da camisa daqueles que - como dizem por aí - parecem não ter outra camisa para usar, ganha um brilho especial. Parece que um Sol brilha em sua direção, um canhão de luz, sei lá, sei é que tem um iluminador oculto por aí. Na verdade esse "iluminador oculto" está na visão daquele que vê a camisa enquanto seu dono a impõe aos olhos dos outros, como se usasse um troféu desafiador, irônico e marrento, como é a Torcida do Flamengo. Na derrota... bem, depende da derrota. Uma vez me vi usando o Manto Sagrado numa ida à Pelada de Sábado, eu estava mesmo à caminho quando me descobri de rubro-negro - lembra da "involuntariedade" citada lá em cima? -, pois me peguei indo ao encontro de um monte de encrenqueiros, vestindo a camisa do meu time que havia sido eliminado... acho que foi o jogo do Cabañas, isso mesmo, o Fla havia sido eliminado daquele jeito e eu subindo o Alto da Boavista vestido de Flamengo. Claro, chegando lá levei aquela gargalhada advinda até de alguns rubro-negros envolvidos na Pelada. "Vestir a camisa do seu time quando ele está vencendo é mole, quero ver vesti-la depois do Cabañas.", lhes disse eu.
Eu estava de rubro-negro naquele dia, mas o iluminador oculto não estava lá. Minha camisa estava triste e meu rubro-negro possuía uma cor diferente, de tristeza, fosca. Hoje não uso a camisa do Fla nas ruas e tenho percebido que este fenômeno tem atingido mais gente do que as tristezas de outrora atingiam. Este Flamengo que entra em campo não parece representar o casamento do torcedor do Fla com seu time, seja lá que time for este, quem forem os jogadores que estejam vestindo o "Manto Sagrado". O rubro-negro de minha camisa, ao abrir a porta do armário, parece-me fúnebre, ido, morto. Claro, que essa sensação tem nome, sobrenome e dentes à mostra, mas estamos falando aqui de motivos para vestir uma camisa e não de motivos para desesperos e desesperanças.
O Tricolor... Esse, depois da ida à Terceira Divisão, e aqui não vai nenhuma alusão irônica à época, vestiu a camisa e saiu de casa com ela de nariz empinado e topete com gel. Tricolores da antiga concordarão comigo, a camisa do Flu não era vista com facilidade pelas ruas do Rio, até porque esse torcedor sempre foi o mais elitizado mesmo entre os torcedores do Rio. Mas agora... Hoje mesmo pela manhã me deparei com um Tricolor buscando uma sombra mais fresca que acolhessem a ele e sua camisa do Fluminense de mangas compridas - certamente um orgulho forjado em muito suor. E lá foi ele. Passou por mim e ergueu o queixo como se tivesse certeza de se tratar de um triste rubro-negro à sua frente.
Sei que alguns torcedores ficarão meio chateados com o que direi agora a partir do Torcedor Tricolor, mas essa é uma visão que me salta os olhos em dias seguintes à desgraças do rubro-negras, e não estou aqui para fazer média com ninguém - quem faz média é o Lorival da padaria com maestria incomparável. É também um dia onde o Tricolor tira a sua camisa e sua ironia do armário. Basta o Mengão tomar uma lambada - coisa comum hoje em dia - e as camisas do Flu, do Vasco e do Fogão pipocam Rio de Janeiro a fora e a dentro. Mas o Tricolor, a meu ver, veste sua camisa com mais intensidade quando veste junto a esta camisa seu tradicional orgulho pelos feitos mais recentes de seu time. O Fluminense vestiu a alcunha de time de guerreiros e, todo guerreiro que se preza precisa ser reverenciado sempre que proezas são realizadas. O Fluzão disputa a Libertadores como melhor time da competição e está na Final do Carioca com grandes chances de vencer o Campeonato. Precisa mais alguma coisa para aquele cheiro de naftalina vazar por aí? Brincadeira.
As camisas cruzmaltinas tem um "q" de "rubro-negrice" na intensidade de suas aparições em público. O Vascaíno, talvez um pouco menos nos dias de hoje, também carrega consigo uma marra difícil de lhe dar. O Fogão amenizou um pouco esse sentimento no Vascaíno quando passou a frequentar mais finais que seu tradicional rival. Mas o Torcedor do Vasco é um cara difícil de ser convencido, por isso, quando Diego Souza resolve dar um lençol no zagueiro e fuzilar o goleiro logo em seguida as camisas cruzmaltinas saltitam dentro dos armários e gavetas porque sabem que amanhã será dia de ir para as ruas. Há também aquela aura que costuma acompanhar bons trabalhos - e maus trabalhos também -, pelo ano inteiro. Ano passado, por exemplo, camisas do Vasco pelas ruas eram tão normais de serem vistas quanto qualquer outra. O time foi mal no início do ano, mas começou um trabalho de recuperação que se iniciou com a conquista da Copa do Brasil e prosseguiu com a bela campanha no Brasileiro. Não podemos esquecer do que aconteceu a Ricardo Gomes... aquilo mexeu com o brio e o orgulho do Vascaíno. Foi um ano bonito para os adeptos da Cruz de Malta. Hoje, apesar da eliminação do Vascão do Carioca, vejo muitas camisas do Vasco pelas ruas. Por que? Resquícios de 2011, óbvio, com um pouquinho assim de vadiagem, digo, da presença do Vasco na Libertadores - e da ausência do Mengão desta competição também (marra minha aqui? óbvio).
O Torcedor do Botafogo... Esse é o mais descarado que existe no quesito "Quando Usar a Camisa do Meu Time". O Fogão vence, ou Flamengo perde, as ruas se infestam de camisas Alvinegras. Uma febre! Parece que até os rubro-negros entram no clima e usam o Manto do Fogão. Mas, se as coisas não andam bem, uma derrota, uma eliminação... enfim, nesses casos você corre o risco de não ver um ser humano sequer vestido de botafogo, ninguém vestido de preto com listras brancas - exceção feita àqueles terninhos de risca de giz que a garotada compra à R$ 99,99 no centro da cidade. Os caras desaparecem. Se o Botafogo está bem, aí há uma miscigenação. O Alvinegro usa sua camisa com o orgulho Tricolor, empina seu nariz, com a marra e a ironia do Rubro-negro, quase querendo esfregar a camisa na cara de quem passa e, com o ar desafiador do Vascaíno, com uma frase estampada no abstrato: NÃO SOU SÓ GRANDE TAMBÉM, SOU MAIOR QUE VOCÊS! É mais ou menos isso. Agora, se o Bota perde não se vê camisas, só lágrimas.
O que você acha, é mesmo por aí? Não sei... Bem, essa é a minha visão, o problema é que você já deve conhecer a "minha visão", ela é totalmente desconexa e vem de dentro pra fora, não o contrário. Ou seja, você certamente tem a sua, naturalmente ela será diferente da minha, mesmo que seja igual.
Um comentário:
É mais ou menos por aí... Comigo não é diferente, o único problema é que não tenho mais camisa do Flamengo. Quando vim para SP dei minha camiseta de basquete para um menino que começou a se interessar pelo Fla, e nada melhor que vesti-lo para ficar mais à vontade na sua descoberta. A de futebol dei a um amigo da Colômbia, o cara gosta do Flamengo aqui no Brasil, não só gosta como sabe "tudo" do noticiário, entra no G1, Globo, Lance só para saber das notícias e me diz - e enviou foto - que usa o manto em Cali.
Coloquei algo em mente, que é: Enquanto essa amadorim estiver no alto posto rubro-negro não adquiro nada do Flamengo. Meu problema não está nas derrotas, que foram muitas (comparando ao seu exemplo do Cabañas), estava fora do RJ na final contra o Santo André, viajei mais de 1.000km só para ver a final e deu no que deu, mas a tal da "involuntariedade" me fez colocar o manto no dia seguinte, acredita? Queria mostra o quanto é grande aquela camisa, mesmo sendo muito zoado. Enfim, para alguns, e isso nos inclui, doi mais o jeito como as coisas são geridas do que uma derrota.
Já em relação ao Vss-Flu-Fogo a sensação é essa mesma, não é à toa que são chamados de torcida arco-íris, mas isso que dá graça à rivalidade e mantém o campeonato carioca vivo, senão...
só uma observação que não tem a ver com camisa, mas tem a ver com gestão, sentimento e coisas afins: O Santos acaba de ultrapassar o Flamengo em faturamento. Ridículo!
E viva o basquete, natação, futsal..
SRN
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