sábado, 28 de maio de 2011

Petkovic, quando um gol conta uma carreira

Atendendo a pedidos...

  Um dia, criança, meu pai pegou-me pelo braço e bradou aos quatro cantos de nossa casa: "Tá bom moleque, vamos ao Maracanã!!! Ô moleque chato!"  E lá fomos nós Barão de Mesquita a fora, seguindo em direção ao Maior do Mundo. Havia acabado de completar dez anos de idade e ainda não havia sido levado ao Maracanã pelo botafoguense mais supersticioso que já tive o prazer de conhecer. Meu pai era um supersticioso do tipo que ligava para a operadora de TV a cabo para saber a que horas começaria o jogo do Fogão, chamava os filhos para ver,  subia para ouvir o jogo de cima da caixa d'água, de onde, segundo ele, o Fogão obteria mais sorte - estava invicto alí, no quintal, em cima da caixa d'água - durma-se com um barulho desse. Assim era o meu pai, uma figuraça! Botafoguense. Torcia pelo Botafogo, e me vestia todo de Botafogo, mas caiu no golpe do Divino. A primeira partida na qual levaria seu primogênito para assistir nu Maracanã lotado não foi um Botafogo x Qualquer um, mas sim um Fla-Flu: Vejam a escalação do Mengão: Renato, Vanderlei Luxemburgo, Jaime, Vantuir e Rodrigues Neto. Pedro Omar, Geraldo e Zico. Paulinho (Rui Rei), Doval e Arilson (Édson). Isso mesmo, Zico e Geraldo juntos com Luxemburgo improvisado na lateral direita... 1974. Zico e Geraldo Assobiador juntos, mas "o cara", não era nenhum dos dois,  era um argentino de nome Doval - inesquecível o craque argentino, demais! Entretanto, me encantei, menino, não com os .craques citados, mas sim com algo que insistia em chamar a minha atenção: A Magnética. Meu pai ficava louco: Olha pro jogo garoto!! Muito difícil.
O Mengão perdeu, 2 x 1 para o Tricolor, mas desde aquele primeiro de Setembro de 1974 meu coração foi tomado pelo Manto Sagrado Rubro-negro e nunca mais consegui passar um dia sem agradecer ao Velho pelo vacilo Divinal que ele deu. Era uma criança que saía encantado do Maraca.
Fico imaginando então como e quantos rubro-negros sairam do Maracanã no dia em que, ao 43 minutos de um primoroso segundo tempo, Petkovic pegou uma bola, lançou-a ao gramado e mirou o arco por cima da barreira. O Maracanã como, em 74, estava lotado; a Magnética que tantos arrepios me fez sentir naquele primeiro de setembro estava lá, enlouquecida, exigindo do Divino mais uma de suas intermináveis picardias. E o Divino não à desapontou. Bola no ângulo esquerdo do goleiro Elton (em sua aparição mais famosa). Flamengo Campeão. Tri Campeão!
Petkovic, certamente você não é o segundo ídolo do Mengão, depois apenas de Zico, não é. Mas isso não é nada. Você é sem dúvida um dos maiores. A Torcida do Flamengo jamais esquecerá de seu feito, jamais! Meu filho de 20 anos viu o que você fez, minha filha de 16, também. Meu ex caçula de 12 anos não se lembra, mas certamente a "imagem" dos gritos de um pai enlouquecido** gritando e berrando abraçado à TV devem estar  em algum lugar de seu subconsciente. Minha caçula, rubro-negra roxa (podem perguntar-lhe) ainda não sabe dessa bela história, mas acabará sabendo, e se emocionará também. Por isso, Petkovic, a Magnética, mais bela representação da Nação Rubro-negra, lhe agradece em agradecimento eterno, no sentido literal da expressão, no "pra sempre" que existe no coração de todos nós. Obrigado cara!


** Foi de certa forma engraçado naquele dia.  Eu estava assistindo a partida sozinho, na casa de minha mãe. Ruia os dedos - não havia mais unhas -, sempre acreditando, querendo, torcendo. Quando a bola do Pet entrou corri à janela mais próxima e gritei o meu maior grito: MENGOOOOOOO!!!!!!PORRA, ISSO AQUI É FLAMENGOOOOOO!!!!!!!
Duvido que houve em Niterói algum vascaíno que deixou de escutar meus gritos. De repente, como um capitão de um time (sei que vocês não acreditam, mas eu já dei minhas cacetadas por aí sim, e boas e inesquecíveis cacetadas), mas como um responsável pelo pensamento dentro de turbulenta explosão de paixão e alegria, corri e me abracei ao televisor ainda em gritaria: VOLTA!!! VOLTA!!! VOLTA!!! O JOGO AINDA NÃO ACABOU!!!! VOLTA PRA MARCAR PORRA!!!!!! e alí fiquei, no meio campo, em cima dos jogadores do Vasco para que eles não dessem a saída e pegassem "meus companheiros" de surpresa. Foi lindo de se ver, estranho de se ouvir.
Obrigado por isso também Pet!

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