Crescemos, amadurecemos e nesse
amadurecimento, ao menos alguns atribuem a ele, passamos a contar com a estranha
sensação de que o tempo começa a passar mais rápido. Esse “passar mais rápido”
está estranhamente acelerado. Ou será que o amadurecimento do próprio
amadurecimento, com a passagem de mais anos, nos dá essa outra sensação, a de
que o tempo passará e continuará passando a cada dia mais rápido. Esse devaneio
todo serve, talvez, para amenizar a real sensação que está me assolando não faz
muito tempo. Claro, até faz muito tempo, mas é que este muito tempo passou tão
rápido...
Refiro-me a tudo o que está
acontecendo e não passa por mim de maneira despercebida. Talvez passe por você,
mas certamente não estará passando pelo seu pai ou pelo seu avô. É a sensação
do fim dos tempos. Fim dos tempos que passam rápido e dos que nem tão rápido
passam por nós.
Você vê o Jornal Nacional de hoje
e as barbaridades aparentemente se repetem. Mas são outras – exceção feita à
compra da Refinaria de Pasadena/EUA -, são outras e são as mesmas. Isso faz com
que você não perceba que se esqueceu do Jornal Nacional do dia anterior. A
percepção as barbáries do cotidiano se foram e tenho minhas dúvidas se o tempo
tem algo a ver com isso, passando rápido demais para que eu me perceba inserido
nele, envolvido por ele, ou se os tempos estão mesmo em seu final e Aquele que
é o seu senhor está apenas sem paciência pois a apoteose se aproxima e o
relógio promete extrapolar o tempo permitido.
O número de bandidos que morrem
diariamente não nos pertence mais enquanto informação. Não ligamos mais para
isso. Ligamos sim, para o número crescente de amarildos e bailarinos executados
em nossas ruas. Nossas policias, que no
evento do Complexo do Alemão aparentaram mudar sua imagem de outrora, e a atual,
para a de verdadeiros Vingadores, parecem querer nos comprovar o improvável. O
Bope que não deixava ninguém subir, hoje saiu das ruas para vigiar portas de
empresas e o subir e descer que pertence ao alheio. O Exército... O Exército
está nas ruas. Ora, mas lutamos tanto para aquartelá-los que nem nos lembramos mais
disso, ao implorarmos pela imagem daqueles soldadinhos de fardas camufladas a
nos defender do nosso cotidiano que passa diariamente na TV, em capítulos
inéditos que se repetem diariamente sem que percebamos. Essa gota do mundo está
girando assim, com a rapidez boltiana dos tempos, de tempos que parecem correr
para não existirem mais. E para que divagar sobre essa gota, sobre esse tempo,
sobre nossas percepções? Ora, para falar um pouquinho de futebol e de uma gota
relacionada a este maravilhoso e apaixonante universo sobre o qual nossa
percepção anda no fim, ou muito rápida para que possamos discernir do modo que um
dia discernimos. Na verdade não é sobre o futebol em si, mas sobre aqueles que
abordam o futebol e nos alimentam, tentam, de informações transformando as
mesmas em pedações de paixões emocionantes, como apaixonante é a emoção do
universo do futebol. Minha percepção de debruça sobre pedaços da imprensa
esportiva com a qual convivemos na busca dessas informações.
Sou de uma geração que precisava
esperar o fim do seu programa dominical favorito – e não tínhamos para onde
correr – para aí sim, nos deliciarmos com o vídeo tape do principal jogo da
rodada. Bem, era assim aqui no Rio de Janeiro. Noutros estados simplesmente não
sei como era. Mas aqui era assim. Januário de Oliveira, a voz mais marcante
desse evento noturno, não falhava. Era tão certo quanto a missa das seis, ou
quanto o culto das oito. Não falhava. Era assim o fim de todos os domingos
esportivos. Domingos de estádios cheios. Um clássico com menos de oitenta mil
pessoas nas arquibancadas e gerais do Maracanã era comentado como um frondoso
fracasso. Atenção!! Valesse este clássico um turno, um campeonato ou apenas
mais um número nas estatísticas, um clássico com menos de oitenta mil pessoas
era o assunto do domingo. Claro, a não ser que na rodada houvesse um título
conquistado ou um gol feito em impedimento que ceifasse de algum time grande a
possibilidade de um título. O outro
evento além do clássico e do vídeo tape era a Mesa Redonda. Rui Porto, Luiz
Mendes, Sérgio Cabral, Achiles Chirol, Orlando Batista... esses e mais alguns
do mesmo naipe, sempre povoavam os finais de domingo com comentários e
informações sobre os times do Rio de Janeiro e, claro, alguma coisa de outros ,
estados também, nem sempre apenas os gols, mas informações relevantes sobre o
futebol fora do Rio. Não, em nenhum momento o futebol dos outros estados era vendido
em chamadas dos programas. Era um plus, o algo a mais que nem era prometido e
se não aparecesse ninguém sentiria falta. Mas a TV mudou.
Video Tape de clássicos? Não,
agora vemos os clássicos ao vivo, com imagens para as praças nas quais esses
jogos ocorrem. Um Fla-Flu às quatro horas da tarde, com ingressos a cem reais e
TV ao vivo... no que poderia dar? O público vazou! E com razão. Aliás, por
falar em razão, creio que a TV ao vivo e os preços dos ingressos não sejam a
principal razão da evasão de torcedores dos estádios. Nem a violência. Penso que
o principal motivo desse sumiço seja o fato de que nos times que jogam ao vivo,
na TV aberta, enquanto o valor dos
ingressos beira aos cem reais não contem mais em seus planteis com jogadores da
estirpe dos de outrora. Hoje não há mais os cabeças-de-área que haviam
antigamente, hoje há amarais e ralf’s, sendo que os segundos são considerados
craques. Os cabeças-de-área antigamente àquela época atendiam pelos nomes de
Falcão, Andrade, Zanata, Zé Mário, Pintinho e coisas do gênero. Sim, os
ingressos estão pela hora da morte, a violência caiu no cotidiano, a TV passa
tudo isso ao vivo, mas talvez um número maior de pessoas enfrentassem tudo isso
por um espetáculo melhor, mesmo sabendo que correria o risco de cair na mesmice
de um Jornal Nacional qualquer. Mas essa
divagação não trata dos clássicos para dez mil pessoas numa tarde ensolarada de
um domingo qualquer.
Hoje, além dos clássicos para dez
mil pessoas, a cem reais, com a violência de pé nas arquibancadas, transmitidos
ao vivo pela TV aberta, há também a proliferação das mesas redondas, tão ricas
no passado e, me desculpem meus amigos da imprensa, tão pobres atualmente. Não
citarei todas, obviamente, mas tratarei de alguns aspectos horrendos de
algumas, as mais populares – ou não -, que diariamente invadem nossas
residências.
Não há a proliferação na TV
aberta. O maior ícone do que de pior existe em mesas redondas sim, bate ponto na
Rede Bandeirantes e é capitaneada pelo horrível Milton Neves. Na função de
âncora de programa de debates ele se transforma no maior vendedor que conheço.
Deveria estar no Shop Time e não num programa que se propõe a debater futebol.
Sem contar que nos debates que por hora surgem em meio as vendas, o nível de discursão
é tão superficial e desprovido de seriedade que o melhor a fazer é apertar duas
teclas qualquer do controle remoto. Mas é na TV paga que o mais grave ocorre em
minha humilde opinião. Por quê? Ora...
Milton Neves é Milton Neves, tem
a sua marca, vende as suas marcas e não procura enganar ninguém – ao menos enquanto
se vende Milton Neves. O que quero dizer com isso? Quem zapeia e para no Milton
Neves sabe exatamente ao que vai assistir e assiste porque quer. Mas quando
você zapeia e para na ESPN Brasil...
Em primeiro lugar essa ESPN de
Brasil não tem nada, apenas o nome. Lembro-me de seu início e, lembro bem, pois
ele nasceu no mesmo dia 17 de junho no qual nasceu uma de minhas filhas. Já
trazia o Brasil no nome e, àquela época, ameaçava trazer o Brasil em suas
intenções também. A ameaça era tão linda
e lúdica que me fez imaginar uma bela opção ao que nos fornecia a Rede Globo e
suas afiliadas, pagas ou não. Acabei me apegando à emissora e às suas
intenções. Havia também a possibilidade
de interagirmos com a emissora durante seus programas e transmissões. Isso nos
fazia parte de tudo!
Durante a Copa do Mundo da França,
em 1998, a emissora criou uma mesa redonda para debater os jogos e,
particularmente, a participação da Seleção Brasileira no certame. Chamava-se
Linha de Passe Mesa Redonda. José
Trajano, Juca Kfouri, Paulo César Vasconcelos, Paulo Vinícius Coelho, Tostão e,
se não me falha a memória, Fernando Calazans (não lembro se Calazans entrou
depois). Lembro sim, que a mesa redonda
era espetacular e tratava apenas da Copa do Mundo. Sem aspectos clubistas, ou
mesmo bairristas, o programa encantou a todos os telespectadores. Encantou a
tal ponto que, ao final da Copa e, a partir da possibilidade da interação com
os participantes do programa, pedimos, eu e mais um monte de gente, pela
permanência do programa em seu formato no pós-Copa. Fomos atendidos. O programa
rolava redondamente – achei durante um tempo. Paulista demais, sentia no
programa a falta de uma voz mais carioca, abordagens mais cariocas. Pedi(mos) e
uma bancada carioca formada por Fernando Calazans e Márcio Guedes passou a
fazer parte do programa. Mas de nada adiantou. Ainda que com dois cariocas no
meio da paulistada, ainda assim, o assunto São Paulo e coisas do estado preponderava
sempre que podia. Há um motivador especial para este comportamento do programa
e de toda a bancada ao meu ver. Chama-se Juca Kfouri.
Nunca vi dissimulação mais
bairrista na TV brasileira, aberta ou fechada. Temos nossos bairristas por
aqui, mas eles não se negam bairristas e dizem que abordarão o Rio de Janeiro e
seus times. Quem quiser ver e ouvir outra coisa... Juca Kfouri não. Ele se faz
dissimulado. São vários os exemplos e basta cronometrar o programa para vermos
que os assuntos paulistas sobressaem em detrimento dos demais. Noutro dia
estava a falar do Flamengo e das dificuldades desse na Libertadores. No segundo
seguinte Juca Kfouri pediu a palavra e citou um momento semelhante passado pelo
Corintrhians. Não sei se por ingenuidade dos demais componentes da mesa ou por cumplicidade
dos mesmos, o assunto mudou para Corinthians e o Flamengo, clube de maior
torcida do país, certamente o time da maioria dos assinantes da emissora, foi
para o espaço sideral. E assim acontece programa após programa. Hoje nem mais a
bancada carioca faz parte do programa.
O Sportv... As mesas redondas do
Sportv são muitas. Temos o Arena, o Redação e os programas pós rodadas como o Tá na Área. Entretanto, a principal
mesa redonda do canal é o Bem Amigos. Este programa é de uma apegação ao
convidado que chega dar nojo. Nenhuma opinião irá confrontar ou deixar em maus
lençóis aquele que se apresenta no programa. Se o treinador do seu time, ou
algum jogador do seu time for o convidado ou um dos convidados, deixe no canal
e se delicie com a promoção gratuita do time para o qual você torce. Gosto dos
aspectos de alguns programas do Sportv. O Arena é só blá, blá, blá. O Redação
traz a sempre bem-vinda mea culpa dos aspectos esportivos citados por André
Rizek, seu condutor. Claro, há muito mais aspectos positivos da imprensa
mostrados no programa. Mas dá para aceitar. No Bem Amigos... Quando não vai um pagodeiro o programa fica
bom na hora do número musical. Estamos entregues!
Estava mais uma vez assistindo no
Youtube a um Programa Roda Viva – excelente programa de entrevistas, em sua
maioria, sem papas na língua. O entrevistado? João Saldanha. Não existe na
imprensa esportiva atual nada parecido com este moço. E olha que Saldanha foi
comentarista esportivo em plena ditadura militar. Ou seja, tinha tudo pra ficar
no blá, blá sem rumo com o qual hoje somos presenteados em nossas TVs a cabo. Autenticidade,
ausência de medos e nem remorsos, João Saldanha dá uma aula, sozinho, daquilo
que deveria ser oferecido ao público que paga por uma melhor qualidade nos
comentários, mesmo o assunto sendo o futebol. Entendedor do seu meio, dentro e
fora das quatro linhas, Saldanha destrinchou opiniões sobre Seleção Brasileira
da época, escalou a sua, deixou algumas unanimidades de fora e, colocando o PVC
no bolso escalou a Seleção da Itália de 1930, além de demonstrar como jogavam
as seleções do Uruguay, da Argentina e da própria Itália em 1926. Não sei se
João Saldanha acompanhava futebol em 1926, ou seja, apresentou-se um estudioso
do futebol, mesmo sendo ele O João Saldanha. Programaço!
Isso é o que vejo, sinto e percebo
enquanto meu tempo passa voando diante da programação esportiva à qual tenho
acesso. Sou sensível a pessoas que dissimulam e conduzem os programas para onde
desejam. Para o seu time, para o seu bairro. Também me sensibilizo com o blá,
blá, blá que me vendem como se fossem João Saldanhas e Nelson Rodrigues – já imaginaram
uma mesa redonda com esses dois, pois existiu, chamava-se Facit. Devia ser
sensacional! Mas sou sensível a isso tudo e me irrito ao me sentir enganado,
ludibriado. A imprensa esportiva precisa melhorar e muito. Percebam que me
referi apenas aquilo que te empurram na TV. Há também o que se lastimar nos
diversos Blogs espalhados por essa Internet de Meu Deus. São pseudojornalistas
amarrados a clubes, a diretorias de clubes, e que tentam transformar nossas
opiniões a partir de suas opiniões
comprometidas com o que nos vendem como o certo. O certo amigo, amiga, é você
se tocar e não deixar o tempo passar tão rápido assim. Não esquecer que o
Jornal Nacional de hoje não apaga o de ontem e, que duas tragédias são piores
que uma, principalmente se anunciadas. Perceba, sinta e tire suas conclusões,
não as minhas.