Fico com enorme receio de
escrever sobre o Fluminense e sua impressionante campanha neste Brasileiro. Brasileiro
este que possuía enorme vocação para ser equilibrado o tempo inteiro mas, que de
equilibrado teve mesmo pouco tempo, muito pouco tempo. Na maior parte do
campeonato o Fluminense fez como faz em seus jogos: bola aos incompetentes. Você
é o Flamengo? - “Sim.”. Então não saberá o que fazer com ela, a bola, a qualquer momento irei
a sua área e farei o meu gol. Você é o Galo Mineiro? – “Sim, sou e estou com a casa
cheia para te enfrentar.”. Tudo bem Galo Mineiro, dê a alegria que seu povo
pagou para receber, não precisarei vencê-lo para alegrar os meus. Você é o Coxa
Branca? – “É o que dizem.”. Bem,
sendo assim deixe-me te meter um gol logo que é para você saber onde você está
e contra quem está jogando. Assim foi o Fluminense na tabela o tempo inteiro. Primeiro,
segundo, terceiro... Não sei ao certo se o Fluzão desceu ao quarto. Mas tenho
receios de falar deste Fluminense tão senhor de si. Torci para um time assim
num tempo atrás... Sim, era o time que à época representava o meu Clube do
Coração – todos sabem por aqui que clube é este. Talvez os daltônicos não... – mas tenho as
sensações daquele time, daqueles tempos, vivas em minhas melhores lembranças.
A partir daquele tempo, além das
alegres sensações de invariavelmente estar indo ao estádio para assistir a mais
uma vitória, juntou-se a elas uma sensação estranha; uma sensação que precisei
entender, além, é claro, de senti-la. Era uma sensação que talvez represente a Era
Jurássica em todo coração rubro-negro daquilo que os torcedores dos demais
Clubes chamam de “marra flamenguista”. Era
a sensação de ter a nítida impressão de que os demais torcedores não
entenderiam, mesmo que se esforçassem, o que era ser rubro-negro, torcedor do
Flamengo na essência, no âmago de lágrimas e sorrisos, ou de sorrisos com lágrimas. Não pretendo entender o Fluminense de hoje a partir de minhas sensações
de outrora. Quero usar dessas sensações justamente para justificar o meu não-entendimento
do que acontece ao time e ao coração Tricolor de hoje. Quero embasar meus
receios.
Assisti a pedaços de alguns dos
jogos mais recentes do Fluminense no Brasileiro e percebi que o jogador
Tricolor sabe exatamente o que significa a Camisa que ele enverga. Desde o Gum
até o Deco, todos parecem ter a Camisa do Fluzão como uma extensão de suas
peles, melhor, de suas almas. Confiantes, eles simplesmente se colocam diante
de seus adversários e expressam essa sensação.
Não quero aqui explicar o jogo em si. Não sou comentarista profissional
e duvido muito que os comentaristas profissionais que não meteram os pezinho numa
bola possam manifestar a sensação que estou sentindo neste momento e entenderem
o que se passa no coração de cada jogador do time de Abel Braga –
duvido! “O Fluminense entrou no 4-4-2,
passou a atacar num 3-5-2...” Balela! Tudo isso é enfeite para dizer aos outros
aquilo que simplesmente não entendem. Assim, alguns comentaristas esportivos - a
maioria, os que não jogaram – explicam o Tricolor que ganhará este Brasileiro
com os pés nas costas. Este Fluminense não se explica a quem não é Tricolor, e jamais poderá ser explicado por quem não sente o que acontece ao Torcedor do Fluminense
As palavras acima são tentativas
de demonstrar o que você, que não é Torcedor do Fluminense, não conseguirá entender.
São apenas tentativas. Deixo claro mais uma vez: tentativas frustradas.
Frustradas não, pois não carregam minha pretensão, mas sim meu reconhecimento.
Tentativas vãs. Não se pode explicar a dor. Este Fluminense deve doer em cada Coração Tricolor
como dói a própria vida. Já disseram que viver na intensidade é doer-se, é
sentir o sangrar e o alívio se alternando enquanto sensações. Olho as
arquibancadas em verde, vermelho e branco e vejo os sorrisos sucedendo ao arregalar
de olhos intensos, em olhares tensos, em alegria intensa, em vida, em dor... É
lindo demais! Inveja? Não, saudades. O
Fluminense de hoje não se explica, se sente e, para sentir o Fluminense você
precisará ser Torcedor do Tricolor. Terá
obrigatoriamente de trazer consigo todas as outras sensações que não
esta, a de ir ao estádio para ver o quanto, de quanto, contra quem. Terá de carregar seu passado junto a alma. O
Fluminense de hoje é isso. Os jogadores e sua confiança nos passam isso durante
as partidas. Uma confiança “quase-marra” que acaba invadindo o coração e saindo
pela boca e dedos dos seus Torcedores que hoje são, sem dúvida alguma, os mais
felizes do país. Parabéns a você Tricolor. Tudo terminará bem, não se preocupe, mas vá ver de perto.
Só torço aqui, de coração sincero, para que essa "quase-marra" se transforme logo em felizes saudades.