Aproxima-se a Copa do Mundo de 2014, a Copa do Mundo no Brasil. No próximo ano já teremos a Copa das Confederações e este evento transformará finalmente a relação do povo brasileiro para com a sua Seleção. Hoje essa relação está totalmente abalada. Verdade, quase totalmente, pois o que não está abalado está esquecido. Passei hoje pelo centro da Tijuca atrás de um "café-da-manhã" Entrei num bar e lá estava passando o jogo no qual a Seleção Brasileira enfrentava os japoneses. Demorei uns cinco minutos para ser atendido. Não, não imagine assim tão rapidamente que a atenção a qual buscava estava em poder do monitor que exibia o jogo, não estava. Aliás, as pessoas passavam pela rua, dava uma espiadela e seguiam seu caminho. Eu e o monitor, mais ninguém. Sete minutos depois de minha entrada no estabelecimento comecei a tomar o meu café. Eu e o monitor. Até a Era Dunga se apossar da Seleção Brasileira, capitaneada pela Era Ricardo Teixeira, essa realidade era impossível de ser sonhada. Uma Seleção Brasileira na TV parava tudo e todos. Certamente eu teria dificuldades para tirar a atenção do atendente do bar da telona pendurada na parede. Hoje, infelizmente, não é assim. Mas 2013 vem aí e com ele o "Espírito da Copa do Mundo".
Você não acredita em espíritos?!! Cético! Nem no Espírito de Natal?! Ah! Não negue que Dezembro é um mês diferente dos outros, com uma exacerbação de harmonia e compreensão de todos para com todos... É sim! Existe o Espírito de Natal e este espírito tem como hábito a vontade de presentear, talvez perdoar. Citei um pouco acima o Espírito da Copa do Mundo. O Espírito da Copa do Mundo tem como principal característica um abraço. O povo, envolvido por este espírito tende a abraçar a Seleção Brasileira, fazendo dela um pendão da pátria a ser defendido a qualquer custo.O povo abraçou a Seleção do Dunga!! Perdi um amigo por causa desse abraço, pois abraçamos de olhos fechados e, não sei porque, os meus estavam abertos. Perdi um amigo que recuperarei assim que descobrir o e-mail dele - mas essa é uma outra história. Abraçada pelo povo, a Seleção Brasileira recebe um monte de presentes indiretos. Ruas pintadas, cartas quilométricas, compra de produtos da CBF, os clubes são relegados ao segundo plano, os comentários abusam do ufanismo, enfim, é Deus no Céu e a Seleção Brasileira na Terra. Tudo isso é muito maravilhoso e dura o tempo em que a Seleção retorna os carinhos recebidos com vitórias - não, atuações convincentes não são mais fundamentais, as vitórias sim.
Caso não haja o retorno vitorioso da Seleção abraçada, o abraço se desfaz e os culpados pelo fracasso são caçados em todos os lugares onde antes as flores transbordavam. Ruas pintadas são pixadas, as cartas são transformadas em gritos, brados de protestos; os camelôs se desfazem imediatamente das camisolas e bandeirolas que aludiam a Seleção derrotada, os comentários ufanistas viram críticas ferozes com um "eu já sabia" embutido em cada comentário, enfim, "o dia virou noite, o céu foi pro além..." Até mesmo o presidente da CBF vira as costas para o infeliz do treinador da vez e o execra carregando-o com toda a culpa pelo fracasso. É assim que acontece e tem acontecido até aqui. Houve um momento em que essa transformação ocorreu de maneira diferente, mas a maioria de nós ainda não estava por aqui. Por isso não me utilizarei do que li a respeito para mensurar o próximo abraço. Utilizarei-me apenas de minha visão e meus receios. A próxima Copa do Mundo será no Brasil e esse abraço não será como os outros mais recentes. Esse abraço será apertado. A Seleção Brasileira ainda não tem sua cara pronta e nem seu corpo formado à disposição desse abraço, mas mesmo assim esse abraço já se manifesta em todos os seguimentos da sociedade tupiniquim. Gostaria de ter assistido ao jogo do Brasil contra o Japão para enriquecer este meu comentário, mas a labuta e a rapidez com as qual tomei meu café não me permitiram ver a maior parte do jogo. Gostaria de ter assistido a partida para poder medir o grau de ufanismo nos comentários a respeito da atuação da Seleção. Será só força do abraço ou o Brasil está ganhando uma identidade mais coesa, uma cara, uma Seleção? Não sei. Mas a Seleção ficará pronta, mais cedo ou mais tarde. Eu penso que já está tarde.
Pronta, no ano da Copas das Confederações, a Seleção Brasileira finalmente ganhará seu abraço quadrianual. Só que este abraço será diferente demais de todos os demais (gostaram do meu trocadilho com "demais"? Demais não é mesmo!?) mas, este abraço será mais apertado, terá mais afago e carinho, provocará uma quantidade maior de tintas e pincéis, porque as ruas serão poucas à época; precisarei me conter ao criticar críticos e comentaristas para os quais Pelé terá descido do Olimpo e incorporado em todos os atletas do escrete brasileiro, enfim, o abraço será muito, mas muito mais apertado. Entretanto...
Entretanto, é bom que os responsáveis pelo Selecionado Brasileiro entendam que esta abraço de anjo poderá se transformar em um abraço de urso, daqueles bem apertado e perigoso ao mesmo tempo. Um abraço terrível e destrutivo que, amigos acreditem-me, não precisará esperar por fracassos mais acentuados. Chego a imaginar que os primeiros vinte minutos de qualquer jogo que seja, o da estréia por exemplo, mal disputado pela Seleção Brasileira poderá desencadear uma vaia tão estrondosa que nervo algum permanecerá ileso e o time inteiro poderá sucumbir naquela e nas próximas partidas. Não adianta pedir ao povo para agir diferente. A Seleção Brasileira precisará ser uma Seleção diferente daquilo que tem demonstrado ser até aqui. Se isso acontecer e o povo por qualquer motivo abandonar os comandados de Mano Menezes ´pelo meio do difícil caminho... acontecerá uma derrota e uma reação a esta derrota que nem o Ricardo Teixeira, mesmo se morto estiver, escapará dos pixadores de ruas, das escribas, do povo de uma forma geral e, do pior elemento que precisará ser enfrentado: o comentarista traído pelo fracasso. Nossa! Os jogadores terão de jogar no Afeganistão e o treinador terá de mudar de profissão - onde está o Dunga? Os dirigentes da CBF serão banidos da entidade "particular" e o Luiz Roberto do Sportv entrevistará o próximo presidente da CBF, que anunciará o nome do novo treinador ao mesmo tempo em que, junto ao locutor, acabará com a carreira do treinador derrotado. A Seleção Brasileira estará neste momento sufocada, esmagada, por um abraço, aquele que eu citei no título deste post.
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