Venceu o melhor. Isso, o Flamengo venceu o melhor.

"Que vença o melhor!"

Essa é a retórica mais vendida nesse mundão de meu Deus. Normalmente quando alguém diz isso para um outro alguém está sendo alguém transvestido na pele de um outro alguém. Não entenderam? Engraçado, quando comecei a escrever eu até que tinha uma linha de raciocínio para lhes passar, mas aqui, depois de tantas letras... É que o cara está tentando ser simpático mas, não ficaria nada triste se esse "melhor" fosse o time dele.

Vamos começar a ilustrar.

O Vasco da Gama era, até pouco tempo, o líder do campeonato, não é mais. O líder agora é o Corinthians. E eu te pergunto, se o campeonato terminasse ontem com o Vasco Campeão Brasileiro o melhor teria vencido? E se terminasse hoje, com o Timão de Adriano sagrando-se Penta Campeão Brasileiro, teríamos um justo campeão, afinal de contas a brincadeira é essa, vence quem chega na frente, mas, eu disse, mas, o Corinthians é hoje o melhor time brasileiro? Claro que não! Então por que o acaso teria de se comprometer hoje com o Fluminense para fazer o tricolor vencedor no duelo desta tarde contra o Mais Querido?

O melhor não venceu.

Primeiramente quero deixar bem claro, o Fluminense foi melhor, mas foi ridículo. Foi apenas menos ridículo que o Flamengo. Que fique claro também que esta opinião, esta visão, se remete apena ao tempo de jogo onde os dois times pareciam  desprezar o fato de envergarem duas das mais tradicionais camisas de times de futebol do Brasil. 

Eram jogados doze minutos do segundo tempo quando o Fla Flu realmente começou. Não sei por ordem de quem, mas os jogadores do Fluminense principalmente partiram para cima do time do Flamengo dando a clara impressão de que se descobriram disputando um Fla Flu. Eu, do twitter, desesperava-me achincalhando Luxemburgo e sua mente maligna. Aos quinze o prêmio. Numa cabeçada mortal Rafael Sobis abriu o placar e colocou o Fluzão na frente. Fazia-se ali uma justiça às atuações de Fluminense e Flamengo no primeiro tempo. Mas percebi que essa sensação de justiça não importava muito. Por que? Ora, meus amigos, porque eu sentia nos arrepios de meus poros que o Flamengo acordava e também se via no Olimpo dos jogos de futebol. Os pernas-de-pau rubro-negros da primeira etapa, que passaram a contar com o apoio luxuoso de Negueba, Jael e Bottinelli, descobriram-se disputando um Fla Flu e o Fla Flu pegou. Lembrando aos amigos que Fla Flus não são necessariamente lugares para que a justiça se manifeste. Pode até se manifestar, mas ninguém estará lhe dando bola.

Aos vinte e três minutos desta segunda etapa o jogador que mais me irritou na primeira empatou o jogo pela primeira vez. Thiago Neves escorou chute cruzado de Negueba e colocou o Mengão ao lado do Flu na contagem do placar. Estávamos num Fla Flu, todos nós. Quem foi, quem não foi e quem ficou no bar embaixo da minha janela gritando desesperadamente a cada ataque. O Flu, mesmo no novo clima do jogo, ainda inspirava mais confiança no próximo gol. E como na primeira e famigerada etapa o Flu dominava, mas era o Fla quem chegava diante de Cavallieri. Abel mostrou que assim como seu conterrâneo Luxemburgo também era capaz de fazer alguma coisa além de ficar atritando jogadores. Abelão colocou Lanzinni em campo e, aos trinta e três minutos o argentino bom de bola do Flu colocou o Fluminense na frente pela segunda vez. Enquanto a bola rolava, o Tricolor mais desavisado já imaginava seu "after day"... Encarnações por atacado para os amigos e em entrevista exclusiva para os adversários mais falastrões. Mas a bola rolava e era um Fla Flu - não aquela coisa horrenda do primeiro tempo. Um Tricolor mais vivido saberia que não deveria ainda separar suas mãos e muito menos tirar os olhos do gramado maltratado pelo Sr Justin e seus amiguinhos que ouviram juntos um play back dos piores na noite anterior.

Era decorridos quarenta e um minutos desta impressionante segunda etapa quando Lanzinni fez sim, uma falta em Muralha (Muralha e Paulo Victor foram dois dos melhores jogadores em campo. Salvaram-se até no terrível primeiro tempo) ali, não muito próxima a área. Uma distância "petckoviana". O engraçado é que o Flamengo perdia o jogo quando um minuto antes uma outra falta foi cometida no mesmo lugar e Botinelli, apressado, a bateu em dois lances, tocando a bola para Negueba que a desperdiçou pela lateral - nossa, como eu xinguei o gringo!

"Deixa que eu bato!" Vociferou um Thiago Neves que se sentia encantado num universo onde ele já foi e sabe como é ser protagonista. "Non muchacho, esta buela és miña" retrucou Bottinelli num divino portunhol que acabou convencendo Thiago.Golaço do gringo rubro-negro. Finalmente Bottinelli mostrava o que veio fazer no Flamengo. Sei que esse cara joga bola! Sei que ele pode dar mais. Sei que ele pode ser mais importante do que uma opção no banco de reservas. Temia por ele, mas sabia que El Polo podia dar mais. E deu.

Quarenta e quatro minutos e Bottinelli mais uma vez surpreendeu a todos, Tricolores ou Rubro-negros, vivos ou mortos, nascidos ou não. De fora da área mandou um torpedo que o goleiro do Flu deve estar vendo agora, pelo You Tube. Flamengo, que não foi o melhor em campo 3 x 2, para um Fluminense que não soube aproveitar o fato de ser o melhor em campo. Parabéns aos dois times, as duas torcidas, a quem foi, a quem ficou e a quem verá o tape amanhã. Foram trinta minutos de enlouquecer!

Se o árbitro em algum momento prejudicou alguém certamente não foi na falta de Lanzinni em Muralha. Os amigos Tricolores devem levantar as mãos para o céu porque poderão contar com He-man no próximo jogo, pois o super-herói deveria ter sido expulso ao final da partida.