Ao ouvir hoje o Programa Luiz Ribeiro, na Super Rádio Tupi - recomendo -, fui levado a uma reflexão que muitas vezes tem me acompanhado ali, escondida, esperando por uma oportunidade, normalmente triste, para se manifestar. O mestre, condutor do excelente programa, chamou, indignado, a atenção para um fato deixado de lado no episódio no qual o técnico do Vasco da Gama, Ricardo Gomes, sofrera um Acidente Vascular Encefálico. Luiz Ribeiro perguntou a todos nós: Por que o jogo continuou se no meio deste jogo alguém deixava o estádio com sérios riscos de morte? A indignação do âncora poderia estar acompanhada pelo fato de que Ricardo era uma das personagens principais do evento, no caso o jogo, mas em nenhum momento este pensamento retórico acompanhou a indignação do Luiz Ribeiro... E nem deveria! Ricardo é sim uma pessoa pública, um dos atores principais naquela peça teatral que se desenrolava no “tapete” verde do Engenho de Dentro, mas antes de ser Ricardo Gomes, técnico do Vasco, o homem que se encaminhava ao imprevisível era o pai de Diego, um homem de família como tantos outros homens de família que existem por aí, por aqui. Na verdade, e hoje esse pensamento soa como retórica, qualquer um naquele evento que passasse por problema semelhante ao de Ricardo Gomes mereceria da condição humana uma atitude assim, de interrupção do espetáculo que ali acontecia. Até porque um espetáculo como aquele busca a alegria, o entretenimento e não um encontro tão próximo com a possibilidade de uma morte. Mas o jogo não parou.
O jogo não parou e ninguém aventou essa possibilidade enquanto tudo corria normalmente como se nada tivesse acontecido. O jogo não parou... Não deveria ter mesmo parado? Que homenagem mais comovente poderia receber Ricardo Gomes senão o imediatismo de uma reação sincera ao que acontecia a ele? Não quero aqui dizer que jogos com faixas, abraços de torcidas, nomes na camisa, jogos com mosaicos não serão homenagens sinceras, mas soa como retórica uma vez que a indignação diante da tristeza daquele momento não foi capaz de prevalecer. O Jogo não parou.
Ainda quase dentro da mesma indignação, Luiz Ribeiro mencionou o episódio da morte de Ayrton Senna. Mais uma vez consternado Luiz perguntou ao microfone: Por que a corrida não parou?! Como aqueles homens, e aí endosso a pergunta, conseguiram continuar arriscando suas vidas enquanto uma preciosa vida os deixava ali, tão perto? Respondem à indignação que a tristeza não é páreo para a necessidade que o show tem de continuar, de entregar o que por ele pagaram. Puxa, mas e a vida? Retórica, papo furado. Papo furado enquanto a morte sonda sorrateira pelos lares de outros que não o nosso. A corrida deveria ter parado, medidas enérgicas deveriam ter sido tomadas para melhorar a segurança geral de todos os pilotos.
Hoje, no mesmo programa, soube da notícia de que uma menina de 9 aninhos achou a arma de seu pai “escondida” em um de seus bichos de pelúcia e desferiu um tiro em sua própria cabeça. Minha tristeza e minha indignação se juntam para tentar combater minhas palavras que soarão como retórica, mas eu pergunto: por que essa menina emociona menos que o treinador do Vasco da Gama? Por que a humanidade não destila mais sua própria essência? Por que o carnaval que se seguiu à morte de João Hélio não foi cancelado? Por que vemos pessoas passando por necessidades diversas nas ruas e não nos damos conta de que são seres da mesma espécie que a nossa? Aonde pararemos agindo assim, pensando assim, deixando de sentir assim.
Sim, eu sei que são retóricas, mas não deveriam ser, você não concorda?