Um Destak

A caminho da labuta, envolvido pela preguiça ao mesmo tempo em que os afazeres deixados para "o amanhã" começavam a pipocar em minha cabeça, resolvi, assim que entrei no carro do Metrô, abrir o meu companheirinho de toda manhã, o Jornal Destak. Faço isso todos os dias. A primeira página é aberta em Botafogo e a última fechada na chegada à Estação da Carioca - trabalho do outro lado da Estação. Pois eis que chegando ao final de minha "viagem" deparo-me com a última página de meu jornal e lá encontro um cidadão chamado Fernando Leal que intitula uma coluna com os seguintes dizeres: Depois de Pelé, só Ronaldo.

Claro, meu dia estava acabado. Eram mais ou menos sete e meia da matina e meu dia já findava em meio a uma espécie de revolta contida que se expandia enquanto minha resposta se configurava em minha mente. Lá fui eu andando e pensando em uma maneira de mostrar minha revolta na forma de opinião sem me importar muito se esta ofenderia ou não aquele que à fez por merecer.

Bom dia para lá, bom dia para cá, os olhos vidrados no caminho que me levava ao meu computador. Sentei-me e destilei uma mistura de ironia, raiva e veneno que após o "enviar" provocou imediato... não arrependimento, mas um sentimento de "será que fui muito pesado?". Acho até que fui mesmo. Quem me conhece sabe que dou bom dia com pequenos pedacinhos de ironia que fazem rir, mas que também podem provocar reações das mais eloquentes. Pensei: esse cara quando receber isso, se me der atenção, o que acho difícil, soltará marimbondos ainda maiores dos que os pequeninos que lhe enviei. Peguei mesmo pesado e teria de compreender qualquer manifestação de revolta semelhante à minha. Depois de Pelé, Ronaldo!!! Blasfêmia!! Isso sim. E Romário, Zico, Didi, Zizinho, apenas para sintetizar o absurdo, como ficam nessa história. Mas eu não poderia ter sido tão contundente no meu comentário ao colunista que pode lá ter a sua opinião, mesmo que aparentemente absurda. Amanhã ele arrebentará comigo, como aqueles cérebros poderosos capazes de fazer outros cérebros mais desprovidos de poderes até chorarem. Mas o dia continuou seu curso e seu tempo. Ou seja, eu ainda estava a receber informações de minha parca memória dando notícias terríveis de que meus afazeres ainda tinha a característica de afazeres e não feitos. Esqueci-me totalmente de meu "algoz".

No dia seguinte - hoje - a mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores e o mesmo jardim... Lá fui eu tomar o meu "metrozinho" com meu "jornalzinho" debaixo do braço. Aberto em Botafogo, o Destak me acompanhou até a Estação da Cinelandia guardando seu segredo à sete chaves, ou à sete páginas. Política, o mundo, esportes, diversão, até que chegando a Estação da Carioca deparei-me com a seção "Seu Destak". Para minha surpresa, lá estava um trecho de meu comentário espinafrador do dia anterior destacado na coluna Cartas do Leitor. Rapaz... Senti-me como um Vítor Belfort deitado no tatame olhando para o alto sem saber se o rosto em minha frente era o do Anderson Silva ou do Samuel L. Jackson. Ao invés de me espinafrar contrapondo minha contradita, O Jornal Destak me fez sentir o ego massageado como se sente todo leitor que tem sua opinião publicada num veículo de comunicação de grande abrangência. Que porrada! Parabéns ao Destak e ao colunista Fernando Leal a quem deixo aqui meu agradecimento e o queixo caído pelo excelente tratamento com o qual, infelizmente, não nos deparamos toda hora, principalmente por parte daqueles com os quais diariamente tentamos "discutir" futebol e outros esportes.

Amanhã, um novo dia de velhos hábitos.

Abaixo o meu comentário, a partir do comentário do Fernando Leal (para acessá-lo clique no primeiro link deste post). Para quê?!! Ora, para você, se quiser, emitir a sua opinião sobre o assunto.

Bom dia,

Estava pronto para lhe enviar um texto sobre paleontologia. Uma abordagem que esclareceria não apenas os motivos pelos quais os dinossauros foram extintos, mas sim como eles surgiram e como viveram na Terra. Não o fiz. Sabe por quê? Porque não entendo nada sobre a vida dos dinossauros, sobre a paleontologia e muito pouco sobre o período da Idade Média para traz. Silenciei o meu teclado. Penso ter sido sábio nesta ação, ou não ausência desta ação. Mas aí, ao ler sua coluna no Destak de hoje, percebi que o amigo não comunga de minhas escolhas. Sim, porque se comungasse não escreveria tamanha heresia sobre Ronaldo e seu lugar no Mundo do Futebol. Certamente o amigo jamais colocou seus delicados pés numa bola de futebol com características profissionais ou semi-profissionais. Provavelmente o amigo não nutre maiores amores pelo rubro-negro carioca - no caso de um acesso "fanático" ter motivado seu texto. Sim amigo, porque dizer que Ronaldo é o segundo numa escala que coloca Pelé em primeiro e Zico de terceiro para baixo... Só pode mesmo ser fruto de algum devaneio qualquer.

Achar que Ronaldo é mais e maior que Zico no Mundo do Futebol não é errado, ou certo, comparar Zico a Ronaldo é que produz a heresia. Pelo amor de Deus!! Entenda uma coisa por favor... Zico foi um jogador completo. Além de fazer tantos gols quantos fez Ronaldo, Zico ainda fazia os "Ronaldos" de à época transformarem-se em verdadeiros heróis - Nunes, por exemplo. Àquela época onde ainda se praticava pela maioria o verdadeiro futebol tupiniquim, a excelência não vestia a "9", mas sim a "10", a de Pelé; sabe por quê? Porque o dez era o jogador que devia pensar o jogo, fazer gols, identificar jogadores em posições ideais para fazer o gol; o jogador que jogava com a "10", a de Pelé, deveria também driblar e dar espetáculo; deveria ser gênio. Zico foi um gênio, Ronaldo... Um fenômeno. Um fenômeno porque mesmo com sua nenhuma genialidade, ainda assim, conseguiu se transformar num jogador de nível internacional, no goleador de todas as Copas do Mundo. O amigo já ouviu falar em Miroslav Klose? Pois é, este é o rival de Ronaldo na busca pelo posto de maior goleador de Copas do Mundo. Já viu Klose jogar? Um bonde não é mesmo? Quer comparar Klose a Zico também? Aí já não seria heresia, não é verdade? Seria um caso de internação imediata - o paciente não respiraria, mas pensaria com o auxílio de aparelhos. Zico não foi campeão do mundo é uma outra verdade. Zico jogou na segunda melhor Seleção Brasileira de todos os tempos - Ronaldo não. Mas mesmo assim Zico não foi campeão do mundo. Ronaldo foi. Zinho também. Dunga, Mauro Silva, Ronaldão, Kleberson, Zé Carlos, Denilson, Vampeta, Mazinho... Enfim, uma infinidade de craques que já foram campeões do mundo. Seriam eles mais brilhantes, geniais e melhores jogadores que Zico?

Para que o amigo não pense que o meu desacordo em relação à sua opinião, à sua coluna, provém de um sentimento clubista, esclareço-lhe mais um importante detalhe que lhe ajudaria numa revisão à sua afirmação: Romário foi muito, mas muito melhor que Ronaldo. Romário foi gênio, Ronaldo nunca foi - talvez quando escolheu um castelo para seu casamento com Miss Cicarelli. Ali talvez somente um gênio pudesse ser capaz de tal inventividade. - mas, Romário foi melhor que Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho... outro gênio (que desperdiça sua genialidade, mas é gênio), Garrincha foi zilhões de vezes melhor que Ronaldo (Garrincha, motivo de filme, Ronaldo jamais merecerá), isso amigo, sem contar os que não vimos jogar, como Zizinho, Didi, Dida... Enfim, é muita gente até que o midiático Ronaldo apareça em alguma relação.


E de Paleontologia, o amigo entende alguma coisa? Poderia me ajudar a saber como viviam e surgiram os gigantes dinossauros? Desculpe se minha parca ironia o agride de alguma forma, perdoe-me. Afinal de contas seu texto foi para mim um tanto agressivo e nem por isso deixei de gostar do amigo.


Abraços


Eduardo Tenório